domingo, 24 de julho de 2011

PEDRO SIMÕES NETO - ADVOGADO E ESCRITOR - MANDA-ME UM PARAÍSO DE PALAVRAS MOLHADAS NAS ÁGUAS DE MURIÚ!

JAILZA E PEDRO SIMÕES, ROBERTO FURTADO E MARILDA,
EM 23 DE JULHO DE 2011.
JUNTANDO AFETOS DO PASSADO E DO PRESENTE, PEDRO SIMÕES DIVIDE O SEU TROFÉU DE BELAS LEMBRANÇAS DOS BONS TEMPOS DA PRAIA DE MURIÚ.

ALMOÇO NO PARAÍSO.
Pedro Simões Neto (*)

Almoçamos ontem na belíssima casa de Roberto Furtado e Marilda em Muriú. Dizer que almoçamos no paraíso é definir com exatidão os momentos alegres que desfrutamos com o querido casal e alguns amigos - Eizabeth Brandão, Fátima Nunes, Lisete, Magno Wanderley, minha irmã, Joventina (Jojó), os sobrinhos Adriana e Neto, ......os"netos" Percilio e Beatriz, além de minha mulher, Jailza e dos meus filhos mais novos, Pedrito e Maria..
À maneira dos cronistas sociais de antigamente, o cardápio se ajustava ao local e à ocasião: vatapá, peixe frito, siri e arrumadinho de carne seca, acompanhado de feijão verde, farofa e arroz. Para as bebidas dois tira gostos originais: casca de batata torrada (um sabor extraordinário, diferente, de consistência crocante) e cebola torrada em anéis. Uísque honesto e decente, cerveja, licores...
Mas o melhor mesmo foi ficar próximo ao deck da piscina que se posta diante do mar, e com aquela visão memoriosa, movimentar os ponteiros do relógio em sentido contrário e relembrar Muriú e Ceará-Mirim dos anos cinquenta, sessenta e setenta. Marilda, uma amiga de infância de Ceará-Mirim, do tempo do Doutor Barretinho e dona Carmen, um dos mais divertidos e inteligentes casais habitantes do CM. Ele, de uma tradicional família de comerciantes, descendente do velho Simião Barreto. Ela, filha dos proprietários do Engenho Carnaubal, o mais antigo da região.
Roberto, de raízes cearamirinenses, onde viveu ou transitou dos sete aos quinze anos, grande jogador de sinuca do "Café de Cleto", notabilizou-se como o nosso herói das temporadas de veraneio em Muriú. Seu pai, o desembargador João Maria Furtado, foi um dos mais antigos veranistas da nossa praia, ali aportando nos anos 30, ocupando uma casa simples de pescador. Dona Jacira, sua mulher, mãe de Roberto, uma das mas fidalgas anfitriãs de que tive notícia. Do tipo "casa cheia", eximia cozinheira e doceira (eram predicados indispensáveis às boas donas de casa à época) toda a sua hospitalidade, além de nos por à vontade, consistia em insistir, mesmo contrariando a vontade do convidado, para que repetisse os pratos postos nas refeições.
Paramos o tempo e o tivemos ali, entre as nossas mãos, à nossa inteira disposição. Cheguei a ver Roberto, rapazinho, calça arregaçada e pés descalços, deslizando no cimento bruto com uma fina camada de areia (pera facilitar os passos, amaciando o atrito) nos bailes no Grupo Escolar Augusto de Góis, na praça da capela de São Sebastião, ao som do acordeon de Chico Ramos.
E num repente, um menino que soltava coruja (era esse o nome), dava canga-pé na crista das ondas que arrebentavam na beira da praia, jogava bol (de borracha e não se chamava "pelada" ainda), fazia "mata-burros" de palitos de coqueiro e jornais velhos, na areia frouxa para pegar os desleixados e esperava de tardinha as jangadas e os vendedores de pirulitos e cocadas, me tomou com tal impulso que não tive outra saída senão assumi-lo...
Meu Deus! Como eu era feliz! Como sou feliz por ter depositado numa poupança de tanta riqueza, tanta lembrança preciosa.

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(*) ADVOGADO E ESCRITOR

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